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#Resenha: O dia em que a minha vida mudou por causa de um chocolate comprado nas Ilhas Maldivas - Keka Reis

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Vira e mexe tenho muito interesse em pegar uma leitura infantojuvenil para espairecer nos momentos de descanso, aproveitar uma história mais leve, despreocupada e, por que não, divertida com as trapalhadas pelas quais todos nós passamos em algum momento da nossa pré-adolescência. Foi assim que meu caminho cruzou com O dia em que a minha vida mudou por causa de um chocolate comprado nas Ilhas Maldivas (ufa!), a promessa de um título tão grande quanto complexo me chamou a atenção.
Afinal, o que poderia haver de tão extraordinário em um chocolate comprado nas Ilhas Maldivas?

"Acho que a segunda coisa mais triste que pode acontecer na vida de uma criança é a fábrica do chocolate preferido dela falir e ela ficar, de uma hora para outra, sem seu chocolate favorito." (p. 26)

Já preciso adiantar que não tem nada de extraordinário, aliás. Li a história com a plena consciência de que eram personagens que estavam na quinta série (não, não vou falar sexto ano, sou de outra época rs), lá no alto de seus 11-12 anos e tentei me lembrar um pouco de como eu mesma era quando tinha essa idade. Às vezes essa tática funciona quando percebo que os personagens estão me irritando ou quando eu considero suas atitudes muito bobas. Dessa vez, no entanto, não funcionou.
A leitura é muito rápida, temos sucessivos capítulos extremamente curtos, às vezes com uma única página. Mas então entramos no primeiro problema: todo título de capítulo é, obrigatoriamente, a última frase do capítulo anterior. Esse mecanismo acabou por criar um ciclo de repetição que, depois de poucos capítulos, você já se considera como uma gralha ou um papagaio repetindo coisas o tempo todo.

Nessas repetições, que talvez sejam interessantes para a faixa etária a que o livro se destina, mas na minha opinião chegam a duvidar da capacidade intelectual do leitor, nós lentamente desenrolamos a história de Mia que narra todas as páginas do livro. E chegamos no segundo problema: ela é cheia de repetições. Quando a narradora em si continua contando as mesmas coisas, usando as mesmas informações de novo, e de novo, e de novo e de novo chega um determinado momento que você só quer que o livro termine e descubra que raios o maldito chocolate das ilhas Maldivas tem a ver com todo o enredo. Porque era basicamente isso que estava me mantendo interessada no livro. E o fato de que estava indo rápido, apesar do estresse.

O terceiro problema vem logo depois: a protagonista que se considera a feiosa, a esquisita, a deslocada da sua turma e que tem um melhor amigo tão esquisito quanto. Sinceramente, a pré-adolescência é um momento de tantas dúvidas, inseguranças, mudanças que, na tentativa de representar os excluídos (que nada mais são do que pessoas normais, afinal, ninguém é igual a ninguém), o livro fica completamente estereotipado. Ele não se destaca dos outros (exceto pelo chocolate, pois é), é mais do mesmo, de tudo aquilo que a gente já viu. Infelizmente não há um ponto de virada, uma reviravolta surpreendente, algo que tire o enredo da mesmice.

"Eu não sou exatamente magra e nem exatamente gorda. Eu não sou exatamente nada. Eu não sou exata." (p. 53)

Eu fiquei muito decepcionada com o livro, esperava algo mais inteligente, digamos assim. Afinal, o tal chocolate das Ilhas Maldivas foi pouquíssimo explorado e não teve uma solução (pois é!) ou explicação plausível para a existência dele no enredo para começo de conversa. Além disso, quando encerramos a leitura, percebemos que as quase 200 páginas se passaram, acreditem, em uma única manhã no colégio! Duzentas páginas para ninguém saber por que tinha um chocolate Pura Magia no meio da história. 
Nem preciso dizer que fiquei inconformada com a forma como a história se desenrolou, todo o potencial perdido, o enredo que poderia ter se formado com a ideia original. Talvez eu esteja ficando velha ou talvez os livros para pré-adolescentes precisem melhorar muito e parar de tratar seu público-alvo como crianças pura e simplesmente.

Nota:


O dia em que a minha vida mudou por causa de um chocolate comprado nas Ilhas Maldivas

Autora: Keka Reis
Editora: Seguinte
Número de páginas: 184

"Parecia um dia comum. Bom, pelo menos um dia comum do sexto ano. Até que, no meio da aula de ciências, Mia recebeu um embrulho inesperado. Um chocolate Pura Magia! Aquele chocolate trazia as melhores lembranças de seu pai, e há anos ela não encontrava mais pra vender. Junto com o chocolate, um bilhete: "Quer sentar do meu lado hoje na perua?", com a letra do Bereba!
E agora? Eles não eram só amigos? Por que tudo estava ficando estranho de repente? O pessoal tinha começado a passar o dia inteiro no celular e a chamar o recreio de intervalo, os adultos só queriam ter conversas sérias, não dava mais para comprar roupa na seção infantil… Como sobreviver a tudo isso e ainda decidir como responder o bilhete?"

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