"Seu nome, aparentemente, é mr. Porrott — um nome que transmite uma estranha sensação de irrealidade. A única coisa que sabemos sobre ele é que tem interesse em cultivar abobrinhas."
Posição 271
É neste momento que faço um apelo àqueles que nunca leram Agatha Christie ou nunca leram nada do detetive Hercule Poirot: leiam! E podem começar com O Assassinato de Roger Ackroyd que será uma aventura incrível e emocionante. Eu não me dou muito bem com o Hastings (o constante companheiro, assistente e amigo de Poirot), por isso não tê-lo nessa história foi muito revigorante, comprovando minha picuinha com o personagem e não com o conjunto em si.
Até porque em O Assassinato de Roger Ackroyd, nós temos a narrativa do Dr. Sheppard que acha Poirot uma criatura bastante peculiar quando ele decide se mudar para a casa ao lado da sua, aproveitando suas férias. Não demora muito até que o assassinato de Ackroyd, um milionário figurão, atraia a atenção do detetive belga e, como médico da tranquila King's Abbott, é claro que nosso narrador poderá acompanhar Poirot em suas investigações.
"Passei a ficar mais interessado em nosso misterioso vizinho. Um homem capaz de calar Caroline e enviá-la embora como a rainha de Sabá de mãos vazias devia ser uma personalidade e tanto."
Posição 282
Ao que parece, a morte de Roger Ackroyd pode ter conexão com outras duas, ocorridas previamente: Ashley Ferrars, provavelmente morto ou acidental, seguida da de sua esposa por suicídio. Para isso temos uma estranha relação entre essas três pessoas e uma carta reveladora da Sra. Ferrars pode trazer nova luz às investigações.
Conforme o caso se desenrola, eu, como sempre, fui colecionando suspeitos sem ao menos conseguir reuni-los em uma análise mais detalhada afim de tentar entender e adivinhar quem poderia ser o culpado pelo assassinato. Como as três mortes poderiam estar ligadas? O que Poirot estava observando em sua investigação, afinal, nem tudo que se passava em sua massa cinzenta era compartilhado com o narrador para, então, ser transmitida a nós, leitores.
Às vezes narrativas em primeira pessoa, especialmente de livros investigativos e policiais, podem ser limitantes, pois você só tem acesso àquilo que o narrador quer te contar e, ainda, você fica presa ao ponto de vista dele, que pode ser distorcido em relação à realidade.
"— Ele me falou muito sobre ele mesmo e seus casos. Sabe o príncipe Paul da Mauritânia — o que acaba de se casar com uma dançarina?
— Sim?
— Li um parágrafo muito interessante sobre ela no Society Snippets outro dia, insinuando que ela era na verdade uma grã-duquesa russa, uma das filhas do czar que conseguiu escapar dos bolcheviques. Bem, parece que monsieur Poirot solucionou um mistério aparentemente insolúvel de assassinato que ameaçava envolver os dois. O príncipe Paul ficou imensamente grato."
Posição 1848
Mas para O Assassinato de Roger Ackroyd essa escolha narrativa foi muito divertida e perspicaz, afinal, não é todo dia que podemos ler impressões sobre Hercule Poirot tão engraçadas e um perfeito leigo o acompanhando no desenrolar das averiguações referentes a um assassinato. Com toda a certeza, o Dr. Sheppard foi uma personagem curiosa e, se pararmos para pensar que foi a enxerida de sua irmã Caroline que teve a ideia de trazer o detetive belga para toda a confusão em primeiro lugar, podemos desfrutar de ainda mais interações peculiares entre os dois irmãos.
Nada escapa a Hercule Poirot e tenho que dizer que este foi um dos melhores livros que já li de Agatha Christie. A grande surpresa está reservada aos capítulos finais, mas não deixou nem um pouco a desejar e me pegou total e completamente desprevenida! Eu não tinha muito sobre minhas suspeitas, mas a revelação derrubou meu queixo e fiquei transtornada até depois de fechar o livro definitivamente. Por isso reforço que, se você ainda não deu uma chance a Agatha ou a Poirot, recomendo fortemente começar por esse livro, não vão se arrepender!
"Um estranho final para meu manuscrito. Eu pretendia que fosse publicado algum dia como a história de um fracasso de Poirot! É esquisito como as coisas terminam."
Posição 3910
Nota:
O Assassinato de Roger Ackroyd (The Murder of Roger Ackroyd)Autora: Agatha Christie
Editora: Globo Livros
Número de páginas: 312
"Em uma noite de setembro, o milionário Roger Ackroyd é encontrado morto, esfaqueado com uma adaga tunisiana – objeto raro de sua coleção particular – no quarto da mansão Fernly Park na pacata vila de King’s Abbott. A morte do fidalgo industrial é a terceira de uma misteriosa sequência de crimes, iniciada com a de Ashley Ferrars, que pode ter sido causada ou por uma ingestão acidental de soníferos ou envenenamento articulado por sua esposa – esta, aliás, completa a sequência de mortes, num provável suicídio.
Os três crimes em série chamam a atenção da velha Caroline Sheppard, irmã do dr. Sheppard, médico da cidade e narrador da história. Suspeitando de que haja uma relação entre as mortes, dada a proximidade de miss Ferrars com o também viúvo Roger Ackroyd, Caroline pede a ajuda do então aposentado detetive belga Hercule Poirot, que passava suas merecidas férias na vila.
Ameaças, chantagens, vícios, heranças, obsessões amorosas e uma carta reveladora deixada por miss Ferrars compõem o cenário desta surpreendente trama, cujo transcorrer elenca novos suspeitos a todo instante, exigindo a habitual perspicácia do detetive Poirot em seu retorno ao mundo das investigações. O assassinato de Roger Ackroyd é um dos mais famosos romances policiais da rainha do crime."
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