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#Resenha: Boneco de Pano - Daniel Cole #FevereirovoudeArqueiro

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Boneco de Pano (Ragdoll) - Detetive William Fawkes #01

Autor: Daniel Cole
Editora: Arqueiro
Número de páginas: 336

"VOCÊ ESTÁ NA LISTA DE UM ASSASSINO. E ELA DIZ QUANDO VOCÊ VAI MORRER.

O polêmico detetive William Fawkes, conhecido como Wolf, acaba de voltar à ativa depois de meses em tratamento psicológico por conta de uma tentativa de agressão. Ansioso por um caso importante, ele acredita que está diante da grande chance de sua carreira quando Emily Baxter, sua amiga e ex-parceira de trabalho, pede a sua ajuda na investigação de um assassinato. O cadáver é composto por partes do corpo de seis pessoas, costuradas de forma a imitar um boneco de pano.
Enquanto Wolf tenta identificar as vítimas, sua ex-mulher, a repórter Andrea Hall, recebe de uma fonte anônima fotografias da cena do crime, além de uma lista com o nome de seis pessoas – e as datas em que o assassino pretende matar cada uma delas para montar o próximo boneco. O último nome na lista é o de Wolf.
Agora, para salvar a vida do amigo, Emily precisa lutar contra o tempo para descobrir o que conecta as vítimas antes que o criminoso ataque novamente. Ao mesmo tempo, a sentença de morte com data marcada desperta as memórias mais sombrias de Wolf, e o detetive teme que os assassinatos tenham mais a ver com ele – e com seu passado – do que qualquer um possa imaginar.
Com protagonistas imperfeitos, carismáticos e únicos, aliados a um ritmo veloz e uma deliciosa pitada de humor negro, Boneco de Pano é o que há de mais promissor na literatura policial contemporânea."

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Abram alas para o que talvez fosse o livro mais instigante e promissor que eu poderia querer ler e, pasmem, cujo autor tem ares de roteirista para televisão e, inclusive, teve os direitos de seu livro comprados para ser adaptado para a telinha.
Porém, já deixo meu aviso: me estressei pra caramba durante toda a leitura. A única razão pela qual me forcei a terminar foi porque eu deveria apresentar o livro em um encontro de fãs de literatura policial, mas quando cheguei lá, foi inevitável: abri meu coração sobre os percalços dessa leitura irritante.
Não se deixem enganar: o protagonista está mais para antagonista (ênfase no "anta") do que um personagem que deve gerar qualquer tipo de empatia ou ligação. E detalhe: ele é o detetive que deveria investigar o principal foco do enredo, o serial killer que montou o Boneco de Pano com vários membros de diferentes pessoas. E não só isso, também está com uma lista prontinha para continuar a matança, terminando com o protagonista, Wolf.

"- Nós dois somos companheiros de armas, certo? - comentou Ford em seguida. - Dois paladinos da lei, da ordem e dos bons costumes." 
(pág.149)

Para mim, um bom livro policial precisa de alguns fatores instigantes para que a leitura seja fluida e, como o próprio gênero propõe, alucinante, daqueles que você não consegue parar até solucionar o crime. Bom, Boneco de Pano já peca logo de cara: um protagonista com problemas de temperamento que tem uma parceira com problemas alcoólicos pronta para acobertá-lo na primeira oportunidade. Para mim, se você não consegue torcer para o protagonista, de que adianta ter um? Ainda mais um homem da lei.
Wolf acaba por ser a junção de tudo o que há de ruim em todos os personagens com os quais já tive a oportunidade de me deparar, tanto nos livros quanto nas séries policiais. Ele é indefensável. Apesar de ser o foco principal da narrativa, afinal, ele também está na lista de próximas vítimas do serial killer, o estagiário Edmunds é quem destrincha todo o caso e acaba sendo triplamente mais esperto do que todo mundo. Esse rapaz era simplesmente brilhante e muito dedicado! Enquanto o resto... todos ratos velhos e, como Emunds se deu conta em determinado momento: mais preocupados em proteger os próprios traseiros do que se desdobrar da forma como ele fez. 

"- A detetive Baxter é uma das pessoas mais competentes de todo o departamento. Fora o Fawkes, não tem ninguém mais dedicado que ela a esse caso ou que esteja mais inteirada dele.
- Fawkes... outra catástrofe iminente. Ou você acha que não estou sabendo da recomendação que a psiquiatra fez pra que ele se afaste do caso?" 
(pág.172)

O caso em si parece muito promissor, mas, à medida que vamos entendendo como tudo está interligado, vai perdendo a graça. E quando sabemos quem foi que colocou os alvos nas costas daquelas pessoas... é intragável. Wolf também não contribui muito durante a narrativa: violento, descuidado, explosivo, eu não vi nele qualquer característica que merecesse ênfase ou que pudesse apagar o rastro de besteiras que ele vinha fazendo desde o caso que abre o livro, do Cremador. Francamente. 
Emily Baxter também, completamente ferrada com o problema de bebida e um tombo pelo antigo parceiro. Quer me irritar é só colocar colegas de trabalho retratados com tensão sexual que parece permear livros de policial de um modo geral. Não faz o menor sentido colocar Wolf como o centro de todos os suspiros femininos e até mesmo de envolvimento com uma das vítimas. É inacreditável. A hipocrisia da história chega a ser estupenda. 

"Na sua modesta opinião o risco em soltar nas ruas um detetive emocionalmente instável era ínfimo se comparado às ameaças de um assassino em série."
(pág. 185)

Engraçado que nosso detetive tem vários momentos de atitudes duvidosas e muito contraditórias com a sua posição no caso. Que cara...inútil. Não é à toa que a mulher largou dele, não é à toa que a parceira o denunciou pra ser afastado. Não é à toa que ele se deu tão mal que fugiu ao final do livro. Não dá para defender um personagem assim, não dá nem para criar o mínimo de empatia por ele. É como se o próprio protagonista fosse o assassino.
E, como se ainda não fosse o suficiente, dá para perceber que o autor enfiou uma penca de clichês no enredo: a polícia incompetente, o assassino frio e arrogante, o detetive sem estribeiras que coloca o trabalho acima de tudo, a parceira com paixonite que o acoberta, o rolo de uma noite só...
Wolf fugiu feito um covarde ao invés de enfrentar o caos todo que tinha causado, inacreditável na falta de escrúpulos do que deveria ser o herói dessa história. Leio livros policiais para ver a justiça sendo feita, para ter o bandido condenado. Mas nessa o maior bandido de todos saiu caminhando tranquilamente no meio da multidão. 

"- ... quero salvar a pele desse sujeito mais do que já quis qualquer outra coisa na vida. Porque se eu conseguir salvar a pele dele, de repente consigo salvar a minha também." 
(pág. 201)

Um "policial" como Wolf não sobreviveria o tanto que ele conseguiu num mundo real (pelo menos quero acreditar que não). Não haveria como alguém com esse temperamento e essa falta de noção ficar muito tempo na Polícia. Diante do meu enorme aborrecimento com todo o desenrolar da leitura - sério, não teve uma parte que salvou - decidi que não vou ler os outros livros (sim, tem mais), e nem posso acreditar que isso foi comprado para ser adaptado para a TV. Espero que façam alguma coisa de bom na hora da adaptação e, pelo menos, tirem as partes mais infames do enredo, porque né? De escória o mundo já está cheio e a ficção deve ser um escape dessa podridão, não um realce.

"Ela sabia que estava mentindo para si mesma. De repente ficou achando que sua vida inteira era um equívoco: afinal, se ela havia sido ingênua o bastante para acreditar em Wolf, nada impedia que o resto também fosse uma grande ilusão. O homem que ela tanto admirava, a que tentava agradar, que queria para si... esse homem realmente era o monstro hediondo que Edmunds vinha pintando." 
(pág. 280)

Nota:


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